Mais do que planejamento financeiro, é preciso saber controlar os gastos e mudar hábitos.
Cuidar do dinheiro exige muito mais organização e mudanças de hábitos de consumo do que cálculos e tabelas.
Não gastar mais do que se ganha, fazer um controle financeiro, criar uma reserva de emergência e tomar decisões conscientes como consumidor são dicas simples que vão ajudar você a fazer um melhor uso da sua renda. Confira.
Saiba quanto ganha e gasta
Uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil revelou que 42% das pessoas não sabem dizer com precisão qual é sua renda.
Para começar a controlar melhor as finanças, é essencial saber qual é o seu salário líquido, o valor que de fato cai na sua conta após os descontos do Imposto de Renda, INSS, eventuais contribuições ao plano de previdência da empresa e gastos com plano de saúde.
Em seguida, levante quais são seus gastos fixos e variáveis e suas dívidas, como os financiamentos e as próximas faturas do cartão.
Só assim você poderá identificar o que está desequilibrando seu orçamento. Para facilitar a tarefa, vale usar planilhas em Excel, apps, ou a ferramenta que você considerar mais efetiva (confira 15 opções para controlar o orçamento no fim da matéria).
Comece o controle o quanto antes
Para explicar por que não adianta deixar o controle financeiro para depois, nada melhor do que um pouco de finanças comportamentais – campo de estudo da psicologia econômica que investiga as emoções que estão por trás de nossas decisões financeiras.
Dentre os conceitos estudados na área estão os vieses comportamentais, formas de agir irracionais que nos levam a perder dinheiro.
O viés que cabe aqui é o da inércia. Vera Rita de Mello Ferreira, consultora de psicologia econômica e professora da Fipecafi, explica que este viés nos leva a ter uma crença infundada de que vamos conseguir realizar as coisas no futuro.
“A pessoa vai procrastinando, até que se passam semanas, meses, ou até que o problema finalmente estoure.”
Para combater esse comportamento, segundo a consultora, é preciso entender que o famoso “amanhã eu faço isso” não funciona e se dar conta de que se você deixar a pendência para depois, talvez você não a resolva. Por isso, existem suas opções: resolver o problema já, ou conviver com o fato de que você provavelmente não irá resolvê-lo nunca.
Não abandone seu controle
Mais difícil do que criar uma planilha de orçamento, ou baixar um app de finanças, é manter o controle financeiro ativo e transformá-lo em um hábito.
“O registro de receitas e gastos é o que há de mais importante no planejamento financeiro, por isso é essencial mantê-lo sempre atualizado”, diz o consultor financeiro André Massaro.
Para que o controle não se perca, Massaro sugere que o orçamento seja “auditado” por outra pessoa e que sejam criadas até mesmo punições, ainda que simbólicas, caso algumas metas não sejam cumpridas.
Outra dica para não abandonar o controle é traçar objetivos para os meses seguintes, que te motivem a manter os gastos sob controle e te incentivem a acompanhar a evolução do orçamento.
Não confie nas contas que você faz de cabeça
Aqui vale outro viés estudo pelas finanças comportamentais: a contabilidade mental. Conforme explica Vera Rita, ele consiste na realização de contas mentais que não refletem os dados da realidade.
“É o que fazemos, por exemplo, ao pensar no nosso 13º salário sem considerar os descontos. Assim, a pessoa acha que tem um valor maior do que realmente possui e vai gastando o 13º sem ver exatamente o valor que já foi embora. No fim, ela acaba cheia de dívidas”, afirma a consultora.
Ao se dar conta de que você tem grandes chances de fazer contas falhas, você começa a perceber que é importante checar com mais frequência seu saldo bancário. Assim, fica mais fácil evitar que as emoções (como a vontade de ter um 13º salário eterno) baguncem seus cálculos e você fique com a impressão de que o seu dinheiro vai embora por motivos “do além”.
Não confie tanto em você de forma geral
Outros dois vieses estudados pelas finanças comportamentais são o otimismo excessivo e a autoconfiança exagerada. O otimismo excessivo é a crença infundada de que no final tudo se resolve.
“A pessoa relaxa em relação aos cuidados que precisaria ter com suas finanças e acaba gastando mais do que deveria porque no fim ela pensa: ‘a gente sempre dá um jeito”, afirma Vera Rita.
Já a autoconfiança exagerada, segundo a professora da Fipecafi, é o que nos leva a acreditar que as coisas até podem dar errado, mas para os outros e não para nós mesmos. “A pessoa até bloqueia da memória experiências ruins que ela teve com dinheiro e diz: ‘A minha irmã sempre tem problemas financeiros, mas eu não, eu dou um jeito”.
Segundo Vera Rita, nos dois casos os vieses levam a pessoa a se acomodar, deixando o controle financeiro de lado e aumentando seus riscos de enfrentar grandes problemas diante de adversidades, como a perda de emprego, ou o surgimento de despesas médicas imprevistas.
Verifique despesas com serviços que não usa
Depois de anotar todas suas receitas e despesas, preste atenção aos gastos que você tem realizado e que não fazem sentido, como altas tarifas bancárias, planos de academia que não têm sido 100% usufruídos e serviços de telefonia fixa e assinaturas que podem ser cortados sem grandes problemas (veja 10 coisas pelas quais você pode estar pagando caro demais).
Reavalie seus gastos mais pesados
Se suas despesas estão maiores do que o seu bolso pode aguentar e cortar gastos pequenos, como os sugeridos no item anterior, não resolvem em nada seu problema, talvez seja o caso de atacar os gastos mais pesados do orçamento, como as suas contas fixas.
Nesse caso, a solução pode exigir medidas mais drásticas, como a mudança para um imóvel menor, para reduzir gastos com o financiamento e condomínio, ou a venda do seu carro, o que pode exigir uma mudança no seu estilo de vida.
Como são mudanças significativas, é importante refletir com calma se para você faz mais sentido manter esse tipo de bem, mesmo que ele exija grandes sacrifícios financeiros, ou se valeria mais a pena abrir mão dele para ter mais liberdade no orçamento, seja com gastos de lazer, ou com outros que te tragam prazer.
Organize sua vida no geral
Em matéria anteriormente publicada por EXAME.com, a empresa Seja Personal Organizer, especializada em organização pessoal, mostrou que uma vida mais organizada pode gerar reduções de até 30% nos gastos mensais.
Segundo a empresa, tudo que possuímos precisa ser administrado, desde uma fronha de travesseiro até um imóvel. Se você tem um guarda-roupas lotado, portanto, você precisará de mais tempo para administrar isso.
Ao organizar o armário, por exemplo, é possível separar peças que precisam de reparo e perceber que, se você está doando roupas sem uso, provavelmente você tem feito compras desnecessárias. Além de gastar menos tempo para se vestir (e tempo é dinheiro), tendo em mente quais roupas você tem, é possível entender se você realmente precisa comprar uma peça nova ou se a compra será feita por impulso.
Sem a despensa e a geladeira organizadas também é bem provável que você compre itens repetidos no supermercado e se esqueça de trazer o que estava faltando. Ao deixar tudo organizado, além de não desperdiçar comida, você não joga seu dinheiro fora e reduz seu nível de consumo.
Organize sua carteira
Organizar a carteira pode ser algo surpreendentemente útil para o planejamento financeiro. Ao reunir os cartões que estão perdidos na sua carteira, você pode se lembrar de fechar aquela conta bancária que está parada há anos, e cancelar os cartões cujas anuidades e tarifas estão sendo debitadas da sua conta sem que você perceba.
A limpeza da carteira também pode te ajudar a encontrar cartões de fidelidade, como aqueles do Starbucks que garantem uma bebida grátis a cada dez compradas, ou vouchers de descontos e cortesias. Você pode ainda encontrar recibos de compras recentes e refletir melhor sobre a forma como tem gastado seu dinheiro.
Baixe o aplicativo do seu banco
Uma ótima dica para não atrasar pagamentos e facilitar transferências e consultas de saldo é baixar o aplicativo do seu banco no celular.
Esses apps permitem ao cliente realizar a maioria das operações que são feitas nas agências. Assim, você passa a controlar sua conta de qualquer lugar e não precisa passar em um caixa automático ou na agência e pegar uma fila quilométrica para fazer seus pagamentos.
Fonte: Jornal Contábil
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